14 de mai. de 2025

Gabriel Nunes
Mentorar e dar feedbacks são dois dos instrumentos mais poderosos no desenvolvimento de pessoas, seja dentro de empresas, comunidades ou no relacionamento entre profissionais mais experientes e iniciantes. E embora muitas vezes esses dois temas sejam tratados separadamente, eles têm algo essencial em comum: a capacidade de acelerar o crescimento profissional e pessoal de forma contínua.
Quem trabalha na área de tecnologia está constantemente cercado de aprendizados, mudanças e desafios. Nesse contexto, uma boa mentoria pode fazer toda a diferença. Para entender melhor como conduzir processos de mentoria e como dar feedbacks que realmente geram impacto, continue a leitura.
O poder da mentoria no desenvolvimento profissional
A mentoria é uma prática de troca. A pessoa mais experiente compartilha não apenas conhecimentos técnicos, mas também aprendizados acumulados ao longo da carreira: erros, acertos, desafios e superações.
“A mentoria é uma das formas mais poderosas de se ensinar: através do próprio exemplo”, afirma André Brandão, Mentor, Especialista em Treinamento e Desenvolvimento e CEO na LINUXtips.
Na prática, isso significa que o mentor pode ajudar o mentorado a evitar armadilhas comuns, tomar decisões mais conscientes e ganhar tempo em sua curva de aprendizado. É como se, ao invés de seguir um caminho desconhecido sozinho, o profissional passasse a caminhar com alguém que já trilhou aquela estrada.
Mas vale lembrar que mentoria não é sinônimo de liderança. Embora complementares, os papéis são distintos.
“Liderança e mentoria são diferentes. O líder cuida de pessoas, resultados e processos. O mentor foca no desenvolvimento em áreas específicas”, explica André. “Bons líderes que têm a capacidade de mentorar acabam sendo muito eficientes no desenvolvimento das suas equipes.”
Todo sênior deveria mentorar?
Essa é uma pergunta comum em empresas que estão amadurecendo seus processos de gestão e cultura. Para André, a resposta é sim, ao menos uma vez.
No entanto, ele reconhece que nem todo profissional tem perfil para isso. É preciso desenvolver habilidades como didática, paciência e, acima de tudo, vontade genuína de ajudar. E tudo bem se alguém preferir focar apenas na execução técnica: o importante é respeitar os diferentes perfis.
Um dos grandes bloqueios que muitos profissionais enfrentam antes de começar a mentorar é a falsa sensação de que precisam dominar completamente um assunto para poder ensinar. Mas, segundo André, isso não é verdade.
“Tem muita gente que evita ser mentor porque acha que ainda não domina completamente o assunto. O essencial é ter vivido aquela experiência. Ser excelente ajuda, mas não é obrigatório.”
Ou seja: experiência prática, aliada à empatia e boa comunicação, já fazem de alguém um bom mentor em potencial.
Conduzindo um processo de mentoria
Para que a mentoria funcione de forma eficaz, é importante que haja estrutura. Segundo André, tudo começa com uma sessão de alinhamento, onde mentor e mentorado definem objetivos, expectativas, frequência dos encontros e temas prioritários.
A partir daí, cada sessão pode seguir os Cinco C’s da Mentoria:
Check-in: um momento de acolhimento e escuta;
Conexão: introdução ao tema da sessão;
Compartilhamento: transmissão de conhecimento e experiências;
Comprometimento: definição de ações práticas a serem realizadas;
Check-out: fechamento com reflexão sobre o aprendizado.
Essa estrutura ajuda a manter o foco, garante que haja evolução contínua e evita que as sessões se tornem apenas conversas soltas sem direcionamento.
Além disso, os mentores devem se preparar com antecedência, organizar os temas em apresentações curtas e manter registros de cada encontro.
O impacto dos feedbacks
Se a mentoria é uma ponte para o desenvolvimento, o feedback é o combustível dessa jornada. É ele que permite ajustes de rota, aprimoramentos e a construção de relações de confiança. Feedback é a ferramenta mais poderosa para desenvolver pessoas, produtos e serviços. Empresas como Uber e iFood pedem feedbacks o tempo todo, e fazem isso por um bom motivo: o feedback é o que impulsiona a melhoria contínua. Por isso, tanto quem lidera quanto quem mentora precisa dominar essa prática.
André costuma utilizar a técnica SCI (Situação, Comportamento, Impacto), que ajuda a tornar o feedback claro, direto e eficaz, seja para reconhecer algo positivo ou para apontar oportunidades de melhoria.
Os erros mais comuns ao dar feedback
Segundo André, muitos problemas relacionados a feedbacks mal recebidos ou mal compreendidos vêm de falhas básicas, como:
Julgar a pessoa, em vez do comportamento;
Enrolar demais antes de ir ao ponto;
Escolher momentos ruins para dar o feedback;
Demorar demais (feedback velho não serve);
Falar de forma vaga ou genérica, sem exemplos concretos.
A dica é dar o feedback enquanto a situação ainda está fresca na memória de todos os envolvidos. E, principalmente, focar em fatos observáveis e no impacto gerado, sem fazer julgamentos pessoais.
Criando um ambiente seguro para feedbacks
Mais importante do que dar feedbacks é criar um ambiente onde isso seja possível e desejado. Um ambiente de segurança psicológica.
Respeitar a privacidade, mostrar abertura e construir relações baseadas em confiança são atitudes fundamentais para que o feedback se torne uma prática contínua e saudável, e não um momento de tensão.
Dicas práticas para quem quer começar a mentorar
Para quem está começando a mentorar pessoas desenvolvedoras ou outros profissionais, André compartilha algumas boas práticas:
Organize os temas que domina;
Planeje os encontros, mas seja flexível;
Combine regras claras de convivência;
Observe o estado emocional do mentorado;
Indique leituras e referências úteis;
Vá por partes: “Menos é mais”;
Registre o que foi discutido e definido em cada sessão;
E principalmente: seja coerente com aquilo que ensina.
E se você está do outro lado, buscando mentoria, André também tem um conselho:
“Na TI, há muita gente disposta a compartilhar. Só pedir! Mas: prepare-se, cumpra as tarefas e demonstre comprometimento.”
O aprendizado é sempre dos dois lados
A jornada de ser mentor ou mentora é também uma jornada de autodescoberta. André compartilha que um de seus maiores aprendizados como mentor foi entender que todos têm algo a ensinar.
“Ninguém é grande demais que não tenha algo para aprender e ninguém é pequeno demais que não tenha algo para ensinar.”
Esse entendimento muda completamente a dinâmica da mentoria. Em vez de uma via de mão única, em que só o mentor transmite conhecimento, passa a ser um espaço de trocas reais, onde escuta, curiosidade e humildade se tornam fundamentais. Ao abrir espaço para que o mentorado traga suas dúvidas, visões e experiências, o mentor também expande seu repertório, enxerga problemas sob novas perspectivas e até revisita suas próprias práticas com um olhar mais crítico.
Além disso, essa postura ajuda a fortalecer a relação entre mentor e mentorado, criando um ambiente mais colaborativo e seguro para conversas difíceis e feedbacks sinceros.
Conclusão
Mentorar e dar feedbacks não são práticas reservadas a cargos de liderança ou a profissionais com décadas de experiência. São ferramentas acessíveis e transformadoras, que podem (e devem) ser utilizadas por qualquer pessoa que deseje crescer e ajudar outras pessoas a crescerem também.
Mais do que compartilhar conhecimento, quem mentora compartilha humanidade. E quem dá feedback constrói pontes.
Como nos lembra André Brandão:
“Se você não dá ou pede feedback, está desperdiçando a melhor ferramenta de desenvolvimento. Use-a!”